03 maio 2014

Dengue no Brasil - Em Manaus-AM, Cientistas discutem uso de mosquitos transgênicos para reduzir dengue e malária




O evento ocorre em Manaus (AM) até hoje (29 de novembro), no Auditório da Ciência do Instituto. O objetivo é divulgar e discutir novas técnicas aplicadas para doenças e controle biológico, principalmente malária e dengue, e apresentar tópicos que envolvem biologia molecular e interação parasita.

Pesquisadores e agentes públicos participaram da mesa de abertura, como o diretor da Fundação de Vigilância Sanitária (FVS-AM), Bernardino Albuquerque; o diretor de endemias da Secretaria de Saúde do Pará, Bernardo Cardoso; a representante da Fundação Medicina Tropical, Graça Barbosa; o pesquisador da Fiocruz (MG), Paulo Pimenta; e um dos coordenadores do Seminário, o pesquisador do Inpa na área, Wanderli Tadei.

"Buscamos no Seminário colocar pesquisadores e estudantes junto com o pessoal do serviço de saúde para tentar fazer a interação e para que a maior parte dos dados possíveis da pesquisa seja transferida para o serviço e de forma correta", disse Tadei.

O Inpa desenvolve uma série de pesquisas para o combate a malária e dengue, dentre elas a técnica do cal e cloro que evita proliferação dos mosquitos da dengue em construções e o uso do cravinho da índia para inibir que as larvas de mosquito da dengue cheguem à fase adulta. O Instituto faz parte da Rede Malária com pesquisadores de várias instituições brasileiras e estrangeiras que tem o objetivo de promover estudos para o combate o vetor da doença.

De acordo com o mapa da dengue apresentado pelo Ministério da Saúde, em 19 de novembro último, em 2013, foram registrados 573 óbitos por dengue no País. No Amazonas, já foram notificados aproximadamente 23 mil casos de dengue, sendo que nove pessoas morreram pela dengue.

Para o pesquisador associado da Universidade da Califórnia, o brasileiro Osvaldo Marinotti, apesar de a ciência ter vários mecanismos para controlar mosquitos vetores, ainda não conseguiu eliminar a transmissão de malária, dengue, filariose (elefantíase) ou a leishmaniose.

Alternativas são estudadas com esse fim, como o desenvolvimento de vacinas, novos inseticidas químicos, inseticidas biológicos, manejo de ambiente de criadouros e a engenharia genética de mosquitos vetores.

Atualmente, duas técnicas principais na engenharia genética de vetores são desenvolvidas não só na Califórnia, mas em vários laboratórios do mundo. "Uma é modificar os mosquitos para que eles que não consigam transmitir doenças e outra é usar mosquitos que têm gene letal funcionando como sistema de redução de população", disse Marinotti.

Hoje se tem mosquitos em laboratório que são incapazes de transmitir malária e outros que são incapazes de transmitir dengue. E as perguntas que os pesquisadores se fazem são: como podemos usar os mosquitos que temos no laboratório para repor os mosquitos que estão na natureza ou como poderemos fazer para que o gene do mosquito que está no laboratório vá para os mosquitos da natureza.

Para isso, a Universidade da Califórnia está desenvolvendo um sistema chamado de transposon sintético, que talvez venha a resolver esse problema. "Os dados são preliminares, bastante interessantes e indicam que se nos colocarmos um gene de resistência no mosquito e nós liberarmos esse mosquito na natureza, ele cruzando com outros mosquitos vai conseguir fazer com que esse gene se estabeleça nessa população", explicou Marinotti.

Apesar dos avanços com esse tipo de pesquisa, ela ainda está restrita aos laboratórios e na opinião de Marinotti talvez demore mais tempo para chegar a campo, por conta das questões legais e de autorizações em virtude das discussões sobre os possíveis impactos ambientais.

Já no sistema de redução da população de mosquito vetor, com a inserção de um gene letal nos mosquitos machos que, liberados em grande quantidade no meio ambiente, cruzam com as fêmeas selvagens e geram uma cria estéril, já é usada inclusive na cidade de Juazeiro, na Bahia. A utilização de Aedes egyptitransgênicos para combater a dengue foi desenvolvida aqui pela empresa britânica de biotecnologia Oxitec.

"Com uma grande quantidade de machos, podemos soltá-los na natureza e eles vão lá e cruzam com as fêmeas, mas as fêmeas não produzem descendência. Então, temos a redução de população. E o enfoque é o mesmo do inseticida químico ou do biológico: reduzir a quantidade de mosquitos", contou Marinotti.

Além de Marinotti, também participaram das conferências no primeiro dia do evento o pesquisador Marcelo Jacobs-Lorena e Sebastian Hakansson. À tarde houve ainda mesa redonda sobre vetores da malária e do dengue: estrutura populacional. No dias seguintes, as discussões seguem com mais conferências, mesas redondas, mini-cursos e aulas práticas. Veja a programação aqui.

Desenvolvido em Belo Horizonte pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz/MG), o projeto de predição de epidemia da dengue está ajudando a Secretaria Municipal de saúde da capital mineira a predizer aonde irá acontecer a dengue, a partir do monitoramento de mosquitos infectados. De acordo com o pesquisador da Fiocruz-MG, Paulo Pimenta, têm trabalhos que demonstraram que se pode monitorar a infecção em humanos, conhecendo onde estão os mosquitos infectados.

"Este trabalho é feito em Minas e estamos iniciando a colaboração de predição de dengue aqui em Manaus", contou Pimenta, que há 15 anos tem atividades colaborativas com o Inpa e mais recentemente com a Fundação de Medicina Tropical (FMT-AM).

Segundo Pimenta, diariamente carros distribuem armadilhas em três das nove regionais da cidade, conhecidas como BG Sentinela. Essas armadilhas capturam os mosquitos, que depois são identificados (regiões) e levados para o laboratório onde passarão por um diagnóstico para saber se estão infectados ou não, assim como acontece com os humanos. "Quando os mosquitos estão infectados, avisamos a Secretaria Municipal onde ela tem de atuar para ir combater os focos do mosquito antes que eles infectem os humanos", disse o pesquisador.


Financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates no valor de US$ 3 milhões, o projeto tem duração de quatro anos e encerra em 2014. No próximo ano, o projeto espera montar um modelo matemático associando os dados de campos com outros dados, como condições geográficas, populacionais/ demográficas e números de pacientes, para tentar ter um diagnóstico de onde ocorrerão os casos de dengue.

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