05 novembro 2012

Estratégias e táticas - A importância do comando único - Responsabilidades e funções básicas do comandante de operações - condição da situação X tática empregada - Organograma de ação em ambiente sinistrado - Princípios táticos para controlar um sinistro


Estratégias e táticas

Todas as ocorrências atendidas por bombeiros têm características particulares, no entanto, existe nelas um fator comum que é a necessidade de avaliar, planejar, organizar, e operacionalizar ações seguras de combate ao fogo e salvamento.

Se um sistema de comando está concentrado na figura de um comandante único, certamente a capacidade de gerenciamento de uma situação crítica diminuirá.

A questão de quem deverá responder pelo comando de uma operação de combate a incêndio e salvamento poderá ser definida mediante diretrizes, protocolos ou, até mesmo, por uma questão de tradição. Casos documentados de confrontos, até físicos, entre profissionais de diversas organizações, mostram-nos que a questão “quem manda” ainda assombra a maioria dos serviços públicos de emergência.

Um conceito de comando unificado precisa ser rapidamente incorporado pelas organizações que utilizam seus talentos e recursos materiais, visando ao melhor resultado do conjunto. Somente a partir de uma padronização de condutas definidas em documentos escritos e aceitos pelas organizações, as controvérsias sobre quem está no comando serão esquecidas.


A importância do comando único

Entendemos que a falta de conhecimentos adequados de como agir com um comando central afetará mais a operação do que qualquer outro problema de manejo individual.

Podemos afirmar que a falta de um comando único geralmente produz:

a) carência total de mando, na qual todos atuam sem uma coordenação central e transformam a operação num sistema de anarquia.

b) múltiplos comandos, nos quais a zona de operação é ocupada por vários profissionais de comando, cada um com um plano diferente.


Nesses casos, esses profissionais geralmente rondam o local emitindo ordens conflitantes e gerando uma competição entre os possíveis comandantes.


As vantagens de um comando central implicam:

a) na fixação de responsabilidade de comando numa única pessoa;

b) no estabelecimento de um esquema de trabalho que delimita claramente os objetivos e as funções de cada um na cena de emergência.


Responsabilidades básicas do comandante de operações

É importante entender que o Comandante de Operações (CO) é o líder sobre quem recai toda a responsabilidade pelo comando da operação. Seu papel é de um administrador profissional. O termo “profissional” faz referência à formação técnica, à dedicação e ao desejo de executar, com excelência e qualidade, suas habilidades. O papel do CO exige que ele comande todas as ações na cena do incidente e dele se espera uma postura muito mais de comando, do que uma postura estritamente operacional, pois seu trabalho situa-se num nível estratégico.

O CO, enquanto desenvolve suas ações de comando, deve atuar de maneira serena e segura. Suas quatro principais responsabilidades como comandante das operações são:

a) garantir a segurança do efetivo empregado na operação;

b) realizar o salvamento das pessoas em perigo na atuação de emergência;

c) extinguir o incêndio;

d) preservar a propriedade durante e depois das ações de combate ao sinistro.


Funções básicas do comandante durante as operações

A primeira guarnição ou oficial que chegar ao local do sinistro deverá assumir o comando da operação e informar ao Centro de Operações, via rádio, seu nome, posto ou graduação, identificação da viatura e posição do PC (posto de comando). Normalmente, o CO instalará o PC no interior de um veículo especializado denominado Auto Comando. Caso a organização de bombeiros não disponha de um veículo especializado, o comando será instalado em uma viatura que se encontre no local do socorro, a qual passará a ser designada de Posto de Comando. Preferencialmente, a viatura deverá estar posicionada próxima ao local do evento, sem interferir com o restante dos recursos empregados durante a ação; deverá, também, possibilitar uma visão de, pelo menos, dois lados do bem sinistrado. O CO deverá disciplinar-se para permanecer no PC e manejar o incidente a partir dessa posição básica.

Entretanto, a experiência nos mostra que poderá existir uma crise quando muitos CO em potencial chegarem ao local do evento.

Devemos lembrar que o modo mais rápido de destruir um combate efetivo é permitir que competidores maníacos por comandarem transitem pelo local, cada um tratando de convencer bombeiros de que é ele quem está verdadeiramente no comando da operação. O que sucede, nesses casos, é um caos total. A solução para o problema é a adoção de um sistema de comando que estabeleça a chefia das operações nas mãos de um único CO, e a regulamentação de procedimentos padronizados para a realização da transferência desse comando.

Uma regra básica para orientar a transferência do CO é a que diz “se não puder melhorar a qualidade do comando na zona do sinistro, não solicite que lhe transfira o comando, pois se estará perdendo tempo na execução do socorro.”

A finalização das funções de comando numa zona de socorro vem com o fim das prioridades táticas. Essa finalização poderá ser realizada de um modo bastante simples, como naquelas ocorrências mais comuns nas quais são empregadas poucas guarnições de combate, como também de forma lenta e coordenada, nas ocorrências grande escala.

A segunda função básica no controle de uma zona de socorro é a avaliação ou reconhecimento da situação. Esse reconhecimento é um processo sistemático que consiste numa rápida eficiência de ação, porém devendo considerar todos os fatores críticos existentes na zona onde se localiza a situação de emergência. É esse processo de avaliação que conduz ao planejamento das estratégias de combate ao sinistro. Normalmente, o comandante de uma zona de socorro apresenta as mesmas características de uma guarnição de combate, todos estão praticamente nervosos diante da situação, a comunicação torna-se problemática (ninguém olha, mas todos gritam) e muitos dos profissionais envolvidos tendem a querer pôr em prática seus próprios planos de ação. Recomenda-se que, quando possível, o Comandante de Operações deve aproximar da zona sinistrada com seus chefes de guarnições para que tenha melhor visão da situação a fim de permitir melhor desempenho na formação do seu plano tático.

Um efetivo sistema de reconhecimento e avaliação inicial deverá considerar os recursos disponíveis para o combate técnico dentro da operação.

Somente quem aprendeu a pensar sistematicamente não irá se perder na inevitável confusão que, normalmente, ocorre nas operações de combate aos sinistros.


O Centro de Operações analisará o evento levando em conta:

1) a situação: tipo e intensidade do evento (tratando-se de incêndio: tipo de ocupação, material que está queimando, duração, tamanho do incêndio, localização, etc.); necessidade do salvamento de pessoas; riscos potenciais (de propagação, desabamento, eletricidade, explosões, substâncias tóxicas para a respiração, produtos perigosos, etc.).

2) os recursos disponíveis: pessoal (quantidade e nível de capacitação); equipamentos e viaturas (mangueiras, EPIs, capacidades dos materiais empregados na ação); meios de extinção (tipo e quantidade disponível, distância, etc.). Após analisar esses fatores críticos, o CO deverá desenvolver um planejamento estratégico e tático, converter esse plano de ataque em tarefas e determiná-las para serem operacionalizadas pelas guarnições de serviço presentes no local. Em geral, as ações táticas que deverão ser desenvolvidas na zona do sinistro equiparam-se com as condições do próprio sinistro, numa escala de 1 a 10, observe a relação:



3) função básica de um comandante de operações é iniciar, manter e controlar o processo de comunicação na zona sinistrada. Os problemas decorrentes das falhas de comunicação são considerados os obstáculos operacionais mais comuns das organizações de bombeiro, por afetarem diretamente a eficácia do serviço de combate e extinção dos incêndios. É fundamental que, no primeiro contato (comunicação) com a central de operações, o CO informe, de forma clara e breve, os seguintes pontos: confirmação do comando de operações, tamanho da edificação e ocupação do local sinistrado, condições de fumaça e fogo, primeiras ações e necessidade de reforços ou até mesmo a presença de materiais, equipamentos e pessoas especializadas.

4) função básica do CO no local é o planejamento das estratégias para enfrentar o fogo e a priorização de seus enfoques táticos. As decisões estratégicas objetivam basicamente determinar se as operações de combate ao sinistro se conduzirão de um modo ofensivo ou defensivo.


O planejamento das ações no local do sinistro deverá ser baseado em três prioridades táticas que são:

- Resgate (busca e salvamento) de pessoas;

- Controle da situação;

- Conservação da propriedade.


O CO poderá determinar um combate enquanto se realiza a busca primária, mas permanecerá centralizado na primeira prioridade tática até que se receba a informação de que está tudo limpo. Durante o combate, o CO tentará encontrar o foco, confiná-lo e extingüi-lo.

Essas operações, geralmente, exigem uma operação interna, agressiva e de grande esforço por parte dos bombeiros combatentes. Poderá ser necessária a realização dos serviços de apoio/suporte, tais como:

- Entradas forçadas;

- Ventilação por pressão positiva ou convencional;

- Destruição de paredes, pisos e tetos;

- Colocação de escadas, etc.


Quando o fogo estiver completamente controlado, deverá ser emitido o aviso de fogo controlado. Nas atividades de conservação da propriedade, o CO tentará identificar e proteger tudo aquilo que não for atingido pelo fogo e a ação de luta contra ele. Quando a operação de conservação se completar, será emitido o aviso de perdas controladas.

Esses anúncios são, na verdade, pontos de referência que sinalizarão quando uma prioridade tática básica se completar. Esses pontos de referência, simples e de fácil compreensão, servem para que o CO não perca sua concentração naquilo que está realizando na zona do sinistro.

A quinta função básica do CO na zona do sinistro é a de desenvolver uma organização das estruturas disponíveis para enfrentar, da melhor maneira possível, a situação adversa, ou seja, o evento. Essa organização deverá ser estruturada em três níveis de operação: nível estratégico, nível tático e nível de tarefas ou operacional. A estratégia é elaborada pelo CO, as táticas pelos chefes de guarnições ou de setores.

A montagem de uma organização dentro da zona de um sinistro, por meio de um sistema de setores, facilitará os trabalhos do comandante da operação, pois propiciará uma descentralização das responsabilidades. (figura 312)

 Figura 312: organização padrão numa zona de ação (ambiente sinistrado).


Ao CO cabe a elaboração do planejamento estratégico. Os chefes de guarnições desenvolvem as operações táticas, visando atingir os objetivos estabelecidos no plano de ataque, por meio de tarefas específicas às guarnições de combate que fazem parte dos seus respectivos setores.

A sexta e última função básica do CO diz respeito à reavaliação de todo o seu planejamento e à correção das ações objetivando um rápido controle das perdas na zona do sinistro. Uma ação tática efetiva requer do CO uma avaliação constante do que está sendo realizado na zona de incêndio e, caso seja necessária, a correção de ações. Essa constante avaliação deve ser considerada parte natural do esquema do Comandante de Operações.


 Princípios táticos para controlar um sinistro

Para controlar e extinguir um incêndio, o CO deve considerar, desde a sua chegada no local de emergência, se a operação deverá ser desenvolvida de modo ofensivo ou defensivo, para decidir qual a estratégia mais adequada ao plano de ataque. O CO deverá analisar sete pontos básicos:

a) necessidade de resgate;

b) localização e a extensão do fogo;

c) efeitos do fogo na edificação;

d) possibilidade de conservação da edificação;

e) condições de entrada e permanência na edificação;

f) condições de ventilação;

g) recursos disponíveis.


O plano de combate deverá ser estruturado para permitir um ataque interno, rápido e agressivo, que culmine com o confinamento e a extinção do incêndio.


Essa estratégia inclui as seguintes ações de comando:

- O comandante de operações assume o comando da situação e determina o início de um ataque interior rápido e agressivo;

- O início das atividades de apoio e suporte, tais como, entrada forçada, colocação de escadas, ventilação, etc.;

- O início de busca primária;

- Providencia apoio ao pessoal que iniciou o ataque com a montagem de linhas de segurança (linhas de combate adicionais);

- Controla o abastecimento, providenciando um fornecimento contínuo de água;

- Avalia os efeitos de ataque e, se necessário, modifica sua estratégia de combate.


Por outro lado, os objetivos básicos de um plano de ataque do tipo defensivo estruturam-se a partir de um ataque exterior que controle o incêndio, impedindo sua propagação (isolamento) extinguindo-o.


Essa estratégia inclui as seguintes ações de comando:

- O CO assume o comando da ocorrência; determina que a estrutura está perdida devido à ação do fogo anterior à chegada do socorro;

- Identifica as posições táticas chaves, ou seja, decide onde fazer o corte do fogo e onde posicionar as viaturas de combate;

- Determina o posicionamento das linhas de ataque para fazer o isolamento;

- Providencia o apoio pessoal que iniciou o ataque com a montagem de linhas de segurança;

- Controla o abastecimento, providenciando um fornecimento de água;

- Avalia os efeitos do ataque e, se necessário, modifica a estratégia de combate.

Nesses casos, isso significa a solicitação de reforços.

A combinação dos planos, com a adoção de procedimentos táticos, faz concretizar a finalização de uma operação com êxito.




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