02 outubro 2012

Estresse ou fadiga pelo calor – Cãimbras - Exaustão pelo calor - Golpe de calor


Estresse ou fadiga pelo calor

O grau de conforto humano em um ambiente depende da umidade, temperatura e velocidade do ar.

Em condições de temperatura alta, como o caso de incêndios, o bombeiro tende a diminuir os seus movimentos, mesmo que inconscientemente. A capacidade muscular se reduz, o rendimento diminui e a atividade mental se altera, podendo haver perturbação da sua coordenação sensório-motora.

A freqüência de erros e acidentes tende a aumentar, pois o nível de vigilância diminui, principalmente, a partir de uma temperatura ambiente de 30 oC. Incêndios urbanos podem atingir 1000 oC no nível do teto.

Se for associada alta temperatura ambiente com esforço intenso, condições comuns em incêndios estruturais, o tempo será fator determinante para a eficiência dos bombeiros no combate.

A exposição prolongada força o organismo e, ainda que não se sofra queimadura ou intoxicação por fumaça, é possível que o bombeiro apresente um quadro de estresse ou fadiga intensa.

O próprio equipamento de proteção individual e respiratória (EPI/EPR) é pesado, incômodo, quente e limita os movimentos. Porém é a única forma de proteção contra os efeitos danosos dos componentes do incêndio. Acostumar-se a usá-lo diminui o estresse causado por seu porte.

Cada bombeiro deve saber identificar, em si mesmo e nos demais componentes da guarnição, os sintomas de estresse ou fadiga pelo calor. Os comandantes de socorro e chefes de guarnição devem ter o controle do tempo e das condições sob as quais os bombeiros, sob sua responsabilidade, estão atuando, para revezamento do pessoal no combate, de forma eficiente.



Constituem tipos de estresse ou fadigas pelo calor:
câimbras;
exaustão pelo calor;
golpe de calor.


Cãimbras
São espasmos musculares doloridos, geralmente nos músculos da coxa, que ocorrem depois de um exercício vigoroso, no qual esses músculos tenham sofrido uma intensa demanda física.

As cãimbras não ocorrem somente em ambientes quentes, nem atingem somente indivíduos sedentários, mas aparecem, com freqüência, no combate a incêndio.

A ciência médica não tem certeza da causa das câimbras, mas há indícios de que sejam causadas pela perda de água e sais minerais do organismo, por meio do suor produzido durante exercícios, particularmente, com o aquecimento do ambiente. A perda do suor causa mudança do balanço eletrolítico no corpo.

A desidratação também pode ter uma função no desenvolvimento das cãimbras.

Uma ingestão excessiva de água, com a finalidade de repor o líquido perdido pelo corpo, pode ocasionar uma transpiração excessiva.

Uma das maneiras mais recomendadas para evitar a fadiga dos músculos e minimizar as cãimbras ainda é o treinamento físico, constante  (regular) e adequado do bombeiro.


Um quadro de cãimbra no bombeiro pode ser tratado com as seguintes medidas:

remover o indivíduo do ambiente quente e colocá-lo em repouso em um local arejado;

afrouxar e remover roupas em excesso;

descansar os músculos com cãimbras, mantendo o bombeiro sentado, caso esteja consciente, ou deitado sobre o lado esquerdo, monitorando os sinais vitais e a respiração, se estiver inconsciente. Colocar o membro afetado mais alto que o corpo;

aplicar compressas úmidas sobre os músculos em espasmos ajuda a aliviar a sensação da câimbra;

alongar a área afetada, quando este tratamento não causar mais dores do que a ação da câimbra;

se estiver consciente, pode-se lhe dar água ou uma solução diluída e balanceada de eletrólitos (existem soluções desse tipo comercializadas em supermercados, também chamadas de isotônicos) ou soro de reidratação oral (repondo o sódio, potássio e líquido perdido);

não ministrar tabletes de sal ou líquidos com alta concentração de sal – vítimas com cãimbras têm uma reserva de eletrólitos em seu organismo que não estão distribuídos corretamente. Repousando, os eletrólitos poderão atingir o equilíbrio adequado, resolvendo o problema.


Exaustão pelo calor
A exaustão pelo calor também é chamada de prostração ou colapso pelo calor e ocorre quando o corpo perde muita água e eletrólitos pela transpiração, podendo evoluir para um quadro de choque hipovolêmico, o qual será mostrado posteriormente.

A transpiração é um efetivo mecanismo de refrigeração corporal, devido à evaporação do suor pelo corpo. Pessoas cobertas por roupas espessas, como as de combate a incêndio, transpiram abundantemente.

Indivíduos que desenvolvem a exaustão pelo calor podem ser acometidos por choque hipovolêmico moderado.

O choque hipovolêmico ocorre quando há uma falha do sistema circulatório em fornecer sangue suficiente para todas as partes vitais do corpo.

Com o calor, o organismo perde água pelo mecanismo da sudorese. Há a dilatação dos vasos sangüíneos mais próximos da superfície da pele, para dissipar o calor adicional.

A freqüência dos batimentos cardíacos é aumentada para suprir essa necessidade ocasionando a contração de alguns músculos e do sistema digestivo. Essa reação de contração muscular é para manter o fluxo sangüíneo para o cérebro, coração e pulmão que são extremamente sensíveis à falta de oxigênio.

Daí ocorre o aumento da freqüência respiratória, para tentar aumentar a captação de oxigênio da atmosfera e acelerar a eliminação do gás carbônico.

A contração dos vasos sanguíneos da pele produz palidez, por falta da compensação de fluxo sangüíneo para os órgãos vitais e para dissipar o calor, diminuindo a temperatura e o enchimento capilar.

Quando esses mecanismos começam a falhar, a vítima desenvolve queda na pressão arterial e começa a apresentar alterações da função do cérebro e de outros órgãos por falta de oxigênio. Se o estado de choque não for tratado, será fatal.

Os sinais e sintomas da exaustão pelo calor incluem severas cãimbras, usualmente no abdômen e nas pernas.


Os demais sintomas são semelhantes aos da hipovolemia:
pele fria e pegajosa;
face acinzentada;
sensação de fraqueza, tontura e languidez;
náuseas ou dores de cabeça;
sinais vitais que podem estar normais, mas com pulso rápido;
temperatura usualmente normal ou ligeiramente alta, mas raramente passando de 40 oC.

As vítimas devem ser removidas prontamente para um ambiente fresco.

Toda roupa apertada terá de ser afrouxada e o excesso de roupas retirado.

A vítima deve deitar-se, urgentemente, e inalar oxigênio.

Além disso, ela precisará ser transportada com urgência ao hospital, podendo ser administrado líquido com eletrólitos por via oral, se estiver consciente, ou endovenosa, se o quadro for de inconsciência.


Golpe de calor
É a enfermidade mais rara, porém a mais séria decorrente da exposição ao calor seco do incêndio e tem sintomas similares à insolação.

O golpe de calor ocorre quando o corpo é submetido a mais calor do que pode suportar, fazendo com que o organismo perca a capacidade de regular a temperatura.

Como o mecanismo normal para liberar o excesso de calor é a transpiração, o calor corporal é então liberado rapidamente, destruindo os tecidos e resultando em morte.

Sem o devido tratamento, o golpe de calor pode ser fatal.

O golpe de calor pode ocorrer também durante uma atividade física rigorosa, particularmente em ambientes fechados, pobres em ventilação e umidade.


Os sintomas são:
pele vermelha, quente e seca;
temperatura corporal muito elevada, acima de 40 oC;
vômitos;
convulsões;
contrações musculares;
respiração profunda, seguida de superficial;
pulso rápido e forte, seguido de pulso fraco;
fraqueza;
escassez ou ausência de transpiração;
pupilas dilatadas;
perda da consciência, podendo levar ao coma.


Percebe-se então que os sintomas são contrastantes com os de exaustão pelo calor. Porém, pode evoluir da exaustão pelo calor para o golpe de calor, havendo retenção da umidade na pele, quando o indivíduo não mais transpira e a pele permanece úmida.

O calor corporal é liberado rapidamente no paciente com golpe de calor. A vítima tem uma queda do nível de consciência, e conseqüentemente, diminui a reação a estímulos, pois entra em coma.

Como o pulso é rápido e forte, o indivíduo passa a ficar inconsciente, evoluindo para uma pulsação fraca e diminuindo a pressão sanguínea.

O golpe de calor é uma emergência que ameaça a vida. Por isso, deve ser tratada no hospital, sem demora no atendimento.

A recuperação do paciente dependerá da velocidade e do vigor com que o tratamento é administrado. O corpo deve ser resfriado, por qualquer meio que esteja disponível.

Na cena do incêndio, a vítima deve ser removida do ambiente quente, deslocada para a viatura de atendimento pré-hospitalar e colocada sob o máximo de refrigeração.

As roupas do paciente devem ser removidas, colocando-lhe toalhas ou lençóis molhados. Para isso, pode-se envolvê-lo, sem pressão, com um pano e molhá-lo com a própria mangueira da viatura, transportando-o, imediatamente, ao hospital.

A ambulância deve dar uma notícia prévia ao hospital sobre o problema, para que se prepare um banho com água gelada logo na chegada do paciente. Se houver a possibilidade de aplicar bolsas de gelo, deve-se aplicá-las nas axilas, punhos, tornozelos, virilha e pescoço, além de ministrar oxigênio.



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