02 outubro 2012

Dinâmica do incêndio - Fases do incêndio ( inicial, crescente, desenvolvida e final ) - Carga de incêndio – Fumaça ( quente, móvel, inflamável, opaca e tóxica ) - A influência dos elementos construtivos na dinâmica dos incêndios - Piso falso - Teto falso - Fachadas de vidro - Gesso acartonado - Dutos


Dinâmica do incêndio
É o comportamento do incêndio quanto à sua propagação em um ambiente, confinado ou não, dentro das suas fases. A dinâmica do incêndio é diretamente influenciada pelos diversos fatores, variáveis caso a caso, tais como: a temperatura atingida no ambiente, projeto arquitetônico da edificação, o comportamento da fumaça e a carga de incêndio.


Fases do incêndio
O processo de queima em um incêndio ocorre em estágios ou fases claramente definidos, seja de um incêndio estrutural, em veículo ou florestal.

Reconhecendo as diferentes fases, os bombeiros podem compreender melhor todo o desenvolvimento e combater o incêndio em diferentes níveis, com as táticas e ferramentas mais adequadas a cada etapa. Se o bombeiro conhece bem as fases e as técnicas adequadas para atuar em cada uma delas o incêndio será debelado com eficiência.

As fases do incêndio são descritas como: inicial, crescente, totalmente desenvolvida e final; serão abordadas enfatizando as características de ambiente delimitado por teto e paredes, típicas de um incêndio estrutural. Isso vale também para um ambiente interior de um automóvel.


I. Fase inicial
Inicia-se após a ignição de algum material combustível. É a fase em que o combustível e o oxigênio presentes no ambiente são abundantes. A temperatura permanece relativamente baixa em um espaço de tempo maior e abrange a eclosão do incêndio, o qual fica restrito ao foco inicial. O desenvolvimento do incêndio está limitado ao objeto inicialmente ignido (foco do incêndio) e às suas proximidades.


II. Fase crescente
O início desta fase abrange a incubação do incêndio. Em incêndios confinados, à medida que a combustão progride, a parte mais alta do ambiente (nível do teto) é preenchida, por convecção, com fumaça e gases quentes gerados pela combustão. O volume das chamas aumenta e a concentração de oxigênio começa a baixar para 20%.

A propagação dependerá muito da quantidade e forma do material combustível no ambiente. No início dessa fase, a temperatura ainda não é muito alta, mas há um aumento exponencial na quantidade de liberação de calor em um curto período de tempo, fazendo com que todos os materiais presentes no ambiente venham a sofrer pirólise.

Nessa fase, a temperatura sobe de 50 ºC para 800 ºC, aproximadamente, em um espaço de tempo relativamente curto. O tamanho e forma do ambiente também influenciarão o comportamento do fogo: quanto menor o ambiente, mais facilmente se desenvolverá o incêndio. Da mesma forma, quanto mais fechado (com poucas aberturas naturais para ventilação, como janelas e portas, por exemplo), mais calor será irradiado para o material combustível ainda não atingido.

No final dessa fase, todos os materiais presentes no ambiente atingirão seu ponto de ignição, imergindo o ambiente inteiro em chamas, também conhecido como flashover. O calor se espalha para cima e para fora do combustível inicial por convecção e condução.


III. Fase totalmente desenvolvida
Também chamada de estágio de queima livre ou estável, é nela que o incêndio torna-se mais forte, usando mais e mais oxigênio e combustível. Nessa fase, sua temperatura continuará se elevando acima de 800 ºC, o que já foi provado em testes reais de incêndio em ambientes fechados (Karlsson, B e Quintiere, J. G., Encolsure Fire Dynamics).

O acúmulo de fumaça e gases quentes é intensificado. A concentração de oxigênio baixa para 18%, com grandes diferenças entre os níveis do piso e do teto.

Enquanto no piso a concentração de oxigênio é quase normal e a temperatura ainda é confortável, no teto a camada de gás combustível e temperatura aumentam rapidamente. Daí a importância do combate ser feito de joelhos ou agachado. A transição entre a fase crescente e esta pode ocorrer quando o suprimento de combustível ou oxigênio  começa a ser limitado.


Na literatura brasileira sobre combate a incêndio, a fase totalmente desenvolvida abrange basicamente a propagação do incêndio, destacando-se que:

se o incêndio ocorrer em ambiente fechado, todo ele se inflama, ficando o incêndio dependente da quantidade de oxigênio;

se o incêndio ocorrer em ambiente aberto, a massa gasosa poderá se dispersar, ficando o incêndio dependente da quantidade de combustível.

Os incêndios são controlados pela disponibilidade de combustível ou de ar.

Inicialmente, todo incêndio se comporta com características de incêndio bem ventilado, porque o oxigênio está plenamente disponível, ainda que esteja ocorrendo em um ambiente fechado (ou compartimentado).

Conseqüentemente, desenvolve-se controlado pela queima do combustível.

Em geral, esses incêndios possuem duas camadas distintas: uma de ar na parte inferior e outra de fumaça na parte superior (Figura 50). Nesse caso, os produtos da combustão serão praticamente os mesmos daqueles provenientes da queima do mesmo material em local aberto.
 Fig 50 - Situação de incêndio limitado pelo combustível

Em ambientes limitados, o incêndio aos poucos diminuirá a quantidade de oxigênio e passará a ter velocidade, produção de calor e extinção controlados pelo oxigênio disponível, ou seja, ele será controlado pela ventilação. Em geral, esses incêndios apresentam apenas uma camada, a de fumaça, que preenche praticamente todo o ambiente.

Nos incêndios controlados pela ventilação, a combustão dentro do compartimento será incompleta.

O incêndio subventilado é aquele cuja liberação de calor é controlada pela disponibilidade de ar.

Para um incêndio totalmente desenvolvido ser controlado pela disponibilidade de combustível, em um cômodo de 6m x 6m, por exemplo, seria necessário abrir o equivalente a toda uma parede. Daí percebe-se que a maioria dos incêndios estruturais é controlada pela disponibilidade de ar, mesmo quando há janelas e portas abertas.

Quando não há aberturas, o incêndio subventilado é chamado de confinado.

A maioria dos incêndios estruturais é controlada pela disponibilidade de ar, mesmo quando há janelas e portas abertas.

Fig 51 - Situação de incêndio limitado pela ventilação

A velocidade de queima estará limitada pela quantidade de ar que entra no compartimento. Essa circunstância resultará na saída do combustível não queimado e dos outros produtos da combustão incompleta do ambiente, propagando-se para os espaços adjacentes.

Os incêndios controlados pela ventilação podem produzir quantidades maciças de monóxido de carbono, o que os tornam potencialmente letais.

Enquanto uma combustão viva pode ocorrer em concentrações tão baixas quanto 15% de oxigênio no ar em temperatura ambiente (21ºC), sob condições de temperatura após a generalização do incêndio (flashover), a combustão na camada de fumaça pode continuar a ocorrer até próximo de 0% de oxigênio. Quanto maior for a temperatura do ambiente, menor será a necessidade de oxigênio.

Uma combustão lenta (incandescência), uma vez iniciada, pode continuar com baixa concentração de oxigênio, mesmo quando o ambiente está com temperaturas relativamente baixas. Essa condição mostra que a madeira e outros materiais podem continuar sendo consumidos, mesmo quando o ambiente está com uma concentração baixa de oxigênio. Combustíveis aquecidos envolvidos sob uma camada de produtos da combustão, com baixa concentração de oxigênio na  parte superior do ambiente, também podem ser consumidos.


IV. Fase final
Também chamada de estágio de brasa ou decrescente, seu início ocorre quando o incêndio já consumiu a maior parte do oxigênio e combustível presente no ambiente. As chamas tendem a diminuir e buscar oxigênio disponível por qualquer abertura. A concentração de oxigênio baixa para 16%. Se a concentração baixar para 15% ou menos, as chamas extinguir-se-ão, permanecendo somente brasas.

A temperatura no teto ainda é muito elevada e o ambiente é rico em gases quentes e fumaça, podendo conter gases perigosos, como o metano. Há pouca ou nenhuma visibilidade no local. Ocorre uma diminuição linear da temperatura, o que significa que o ambiente estará resfriando, porém muito lentamente e com pouco oxigênio.

Se não houver ventilação, a temperatura do ambiente diminuirá gradualmente até que as chamas e incandescências se apaguem.

Se houver, porém, uma entrada de ar no ambiente causada, por exemplo, pelo arrombamento por parte dos bombeiros de forma precipitada, a massa gasosa presente na fumaça poderá ignir de forma rápida e violenta, produzindo muito calor e uma onda de choque, expondo a vida dos bombeiros ao risco de morte ou a danos graves.

Essa fase abrange a extinção do incêndio.

Todo o combustível praticamente foi consumido e há chamas pequenas e separadas umas das outras. Há também o surgimento de incandescências. Nesta fase, o incêndio dependerá da quantidade de material combustível ainda não ignido.

 Figura 52 - Gráfico da temperatura versus tempo das fases de um incêndio




Carga de incêndio
É a quantidade total de material combustível existente em um prédio, espaço ou área passível de ser atingida pelo fogo, incluindo materiais de acabamento e decoração, expressos em unidades de calor ou em peso equivalente de madeira.

Na prática, é tudo aquilo que serve como combustível.

Logo, uma sala de cinema tem muito mais carga de incêndio que a portaria de um edifício, ainda que de mesmas dimensões e área. A carga de incêndio de uma indústria de móveis é maior que um galpão utilizado para estocar ferragens.


Carga de incêndio típica de:

Uma sala de estar — jogo de sofá, estante, TV, aparelho de som, mesa de centro e de canto, tapete, etc.

Um quarto — cama, guarda-roupa, criado-mudo, TV, etc.

Compartimento de passageiro de um veículo — bancos estofados, painel em plástico, forro de tecido no teto, carpete, etc.

A carga de incêndio também pode ser definida como a carga de incêndio por metro quadrado de área de um ambiente, ou seja, como carga de incêndio específica, expressa em MJ/m2.


Tabela 17 – Carga de incêndio típica de diferentes  ocupações Tipo de ocupação Carga de incêndio específica (MJ/m2)


Tabela 18 – Classificação das edificações quanto à carga de incêndio


Fumaça
A fumaça é um fator de grande influência na dinâmica do incêndio, de acordo com as suas características e seu potencial de dano.

Antigamente, qualificava-se a fumaça basicamente como um produto da combustão, que dificultava muito os trabalhos dos bombeiros por ser opaca, atrapalhando a visibilidade, e por ser tóxica, o que a tornava perigosa quando inalada.

Com estudos mais recentes, foram valorizadas outras três características: quente, móvel e inflamável, além das duas já conhecidas: opaca e tóxica.


Caracterísitcas da fumaça:

1. Quente, porque a combustão libera calor, transmitindo-o a outras áreas que ainda não foram atingidas. Como já tratado na convecção, a fumaça será a grande responsável por propagar o incêndio ao atingir pavimentos superiores (por meio de dutos, fossos e escadas) e acumular-se no ambiente.

2. Opaca, uma vez que seus produtos - principalmente a fuligem – permanecem suspensos na massa gasosa, dificultando a visibilidade tanto para bombeiros, quanto para as vítimas, o que exige técnicas de entrada segura em ambientes que estejam inundados por fumaça.

3. Móvel, porque é um fluido que está sofrendo um empuxo constante, movimentando-se em qualquer espaço possível e podendo, como já dito, atingir diferentes ambientes por meio de fossos, dutos, aberturas ou qualquer outro espaço que possa ocupar. Daí o cuidado que os bombeiros devem ter com elevadores, sistemas de ventilação e escadas. Essa característica da fumaça também explica porque ocorrem incêndios que atingem pavimentos não consecutivos em um incêndio estrutural.

4. Inflamável, por possuir íons provenientes da reação em cadeia da combustão em seu interior capazes de reagir com o oxigênio, o que a torna uma massa combustível gasosa.

5. Tóxica, pois seus produtos são asfixiantes e irritantes, prejudicando a respiração dos bombeiros e das vítimas, assunto que será aprofundado no Módulo 2 deste manual.

O conceito atual de fumaça não desabona o antigo, somente o complementa de maneira vital para a segurança e trabalho dos bombeiros no combate a incêndio.

Em ambiente fechado, como um compartimento, a fumaça tende a subir, atingir o teto e espalhar-se horizontalmente até ser limitada pelas paredes, acumulando-se nessa área.

Figura 53 – Movimento da fumaça em um ambiente fechado

A partir daí, a fumaça começará a descer para o piso. Em todo esse processo, qualquer rota de saída pode fazer com que se movimente através desta, podendo ser tanto por uma janela, quanto por um duto de ar condicionado, uma escada, ou mesmo um fosso de elevador.

Se não houver uma rota de escape eficiente, o incêndio fará com que a fumaça desça para o piso, tomando todo o espaço e comprimindo o ar no interior do ambiente.


Cientes das características da fumaça e dos riscos que ela representa em um incêndio, os bombeiros podem adotar medidas simples e de suma importância durante as ações de combate, que garantam a segurança tanto para si próprios, quanto para as vítimas, tais como:

resfriar a camada gasosa com o jato d’água apropriado e a técnica adequada;

estabelecer meios que permitam o escoamento da fumaça (ventilação tática);

monitorar os pavimentos da edificação, principalmente acima do foco do incêndio;

ter cuidados com espaços vazios, como fossos, dutos, escadas, etc.;

utilizar o equipamento completo de proteção individual e respiratória.


Durante muito tempo, os bombeiros eram treinados e instruídos para atacar a base do fogo como primeira medida do combate ao incêndio. O fato de que a fumaça pode também pegar fogo ou explodir só foi considerado recentemente, com o estudo da reação em cadeia.

Consequentemente, há a necessidade de uma mudança no comportamento dos bombeiros quanto ao combate, direcionando sua atenção, primeiramente, aos gases inflamáveis presentes na fumaça.

Como utilizar as técnicas de forma eficiente é assunto do Módulo 3 deste manual.


A influência dos elementos construtivos na dinâmica dos incêndios.

Cada edificação possui características arquitetônicas e estruturais próprias e seus elementos influenciam diretamente a dinâmica de um incêndio, tanto separadamente quanto em conjunto.

Alguns fatores que afetam o comportamento de um incêndio e devem ser observados pelos bombeiros, a fim de se compreender as variações na dinâmica do incêndio e para efetuar um combate eficiente, são:

o tamanho e o número de aberturas de ventilação (janelas e portas) do ambiente sinistrado – quanto menor o tamanho e o número de aberturas (ou ainda se estiverem fechadas), mais fumaça acumular-se-á no ambiente;

o volume do ambiente (altura, largura e comprimento) – quanto maior o espaço disponível, maior a quantidade de fumaça acumulada em seu interior;

o número de compartimentos em que o ambiente está  dividido – quanto mais compartimentado o ambiente, menor quantidade de fumaça espalhar-se-á e mais fácil será o seu combate;

as propriedades térmicas das paredes do compartimento – quanto melhor isolante térmico for o material das paredes e teto, menor quantidade de calor é irradiada para outros ambientes;

o tamanho, a composição e a localização dos materiais combustíveis existentes no ambiente (carga de incêndio) – quanto maior a carga de incêndio de um ambiente, mais fumaça é produzida e maior o potencial de dano do incêndio.

Além desses fatores, alguns elementos construtivos são comuns em muitas edificações e ainda não despertam a atenção devida dos bombeiros, tais como piso falso e teto falso.


Piso falso
É a elevação do piso, com a finalidade de permitir a acomodação e passagem de cabeamento, principalmente de transmissão de dados, comunicação e de eletricidade, o que o torna muito comum em ambientes com vários computadores ou de centro de processamento de dados.

Sua altura varia de 15 a 120 centímetros e um incêndio atingindo essa área pode apresentar risco de queda dos bombeiros no  momento do combate ou durante a busca de vítimas.

Geralmente, é feito em placas de madeira sobre estrutura metálica.

 Figura 54 - Exemplo de piso falso


Teto falso
Teto falso ou forro é um rebaixamento do teto, como se pode ver na Figura 40. Com altura variável, ele forma um vão entre o teto e o forro.

Algumas edificações possuem esse espaço como sótão e costumam guardar materiais e mobílias, o que aumenta a carga de incêndio do ambiente, agravando as condições do incêndio.

Figura 55 - Teto falso servindo como depósito de material

A Figura 55 mostra um forro sendo utilizado como depósito de materiais em um restaurante no Texas, EUA, em 2000, onde ocorreu um incêndio que vitimou fatalmente dois bombeiros. As condições do sinistro foram, sobremaneira, agravadas por essa situação.

Em outras edificações, o forro estará fixado junto à laje, não havendo espaço entre eles. Saber se existe ou não um vão entre esses dois elementos geralmente só será possível nas ações de reconhecimento do sinistro, antes do combate, por parte dos bombeiros.

Como a fumaça é móvel e quente, existe uma grande probabilidade desse espaço ser tomado por ela, agravando as condições do incêndio, pela livre propagação do calor para áreas não atingidas.

O risco que um teto falso (ou forro) oferece em um incêndio é devido, principalmente, à possibilidade de a fumaça acumular-se e movimentar-se em seu interior.

Existem vários tipos de forros. Alguns são de alto custo, portanto, não tão comuns, tais como: o de poliuretano, de metal perfurado e o de lã mineral. Geralmente, são utilizados em teatros, shoppings, aeroportos e locais que necessitam de cuidados quanto à propagação do som.

Todos eles apresentam característica incombustível, ou seja, que não ajudam a propagar o incêndio. Entretanto, o risco que eles oferecem para o acúmulo da fumaça em seu interior é o mesmo.


 Figura 56 - Exemplo de forro de metal perfurado


Os tipos mais comuns de forro são de PVC, de madeira, de gesso e de fibra de madeira.

PVC – Cloreto de polivinila
Apesar de não ignir facilmente, o PVC deforma com um mínimo de calor, derretendo e fazendo cair gotas de polímero quente sobre os bombeiros, com risco grave de queimadura.

O uso completo do EPI é imprescindível em todas as ações de combate a incêndio!

 Figura 57 - Exemplo de forro de PVC Madeira


O forro de madeira, tipo paulista, é combustível e, normalmente, permite uma fácil e rápida propagação do incêndio, pois aumenta a carga de incêndio do ambiente, dificultando a extinção do sinistro.

 Figura 58 - Exemplo de forro de madeira Gesso

O gesso também é muito utilizado tanto em residências quanto em edificações comerciais. Ele é incombustível, porém trinca quando aquecido e produz pedaços cortantes ao ser quebrado, podendo desprender-se do teto e ferir os bombeiros, mesmo na fase do rescaldo.

Por ser muito parecido com o material de acabamento das paredes, quase não é percebido visualmente pelos bombeiros antes de se decompor.


Fibra de madeira
O forro de fibra de madeira prensada foi muito utilizado até a década de noventa, devido ao seu baixo custo em relação ao gesso, feito em forma de placas fixadas a estruturas metálicas ou de madeira. É combustível, o que agrava, sobremaneira, a propagação do incêndio.

 Figura 59 - Exemplo de forro de fibra de madeira

Apesar de hoje quase não ser utilizado, esse tipo de forro ainda  é comum em edificações antigas.

Edificações com grandes extensões com  esse tipo de forro apresentam risco potencial de ocorrência de explosão da fumaça (backdraft) em caso de incêndio.


Fachadas de vidro
As edificações modernas estão sendo projetadas, cada vez mais, em grande número com fachadas de vidro, também chamadas de “pele de vidro”. Nessas edificações, há um suporte metálico preso à laje que sustenta grandes “placas” de vidro, substituindo as paredes de tijolos ou de concreto. Entre a laje e os vidros existe um espaço que forma um vão, o que faz com que se assemelhe a uma gaiola.

 Figura 60 – Exemplo de prédios com fachada de vidro em Brasília - DF

Com a ação do calor, os vidros se deformam, deixando livre o espaço entre a laje de um pavimento e a estrutura dos vidros. Essa abertura favorece a propagação vertical do calor e agrava as condições do incêndio, como é possível notar na Figura 61, a menos que haja uma compartimentação vertical que ofereça resistência ao calor.

Figura 61 - Incêndio no Ministério do Desenvolvimento Urbano em 1988.

compartimentação horizontal de um ambiente tem a finalidade de dividir o plano horizontal de um mesmo pavimento da edificação, por paredes ou outros elementos estruturais resistentes ao calor, com o objetivo de evitar a propagação do incêndio e da fumaça pela ação deste.

É o mesmo que transformar uma caixa grande em várias caixas menores de mesma altura. Como já foi dito, quanto mais compartimentado for o ambiente, mais restrito e, portanto, menor o potencial de dano devido a um incêndio.


Acontece que, nesse tipo de edificação, é comum que os cômodos sejam separados por divisória, geralmente de madeira sem tratamento retardante ao fogo, o que implica no agravamento do incêndio por dois grandes fatores:

• as divisórias aumentam a carga de incêndio da edificação;

• ao se deformarem, pela ação do calor, aumentam o espaço disponível para a propagação do calor e da fumaça.


A compartimentação vertical de um ambiente consiste em evitar que o calor e a fumaça se propaguem verticalmente por meio de lajes ou afins. É o mesmo que isolar uma caixa de outra que se encontra  acima. Na maior parte desse tipo de edificação, não há uma compartimentação vertical que consiga reter o calor no pavimento. O mais comum é a utilização de peças metálicas, apenas com fins arquitetônicos, para separar um pavimento do outro, como mostra a Figura 62.

 Figura 62 – Peça metálica entre o suporte dos vidros e a laje.

É importante ressaltar que esse dispositivo não impede a propagação do incêndio ao pavimento imediatamente superior, pelo fato de o metal se deformar facilmente quando exposto ao calor, permitindo a circulação da fumaça por esse espaço.

Os vidros são materiais pouco combustíveis, porém também se deformam com a ação do calor. Quando um vidro se rompe em determinado pavimento, permite a livre passagem da fumaça quente para o pavimento superior.

Os vidros mais encontrados em edificações são os laminados, temperados ou aramados. Todos possuem alto custo e a ação de  quebrá-los em um combate deve ser, ao máximo, evitada.


Considerações gerais sobre os vidros:

• Os vidros laminados possuem esse nome por terem uma lâmina adesiva plástica entre as suas duas faces. São os mais utilizados em fachadas por serem, entre outras coisas, bastante resistentes ao vandalismo. Por outro  lado, eles dificultam a ação dos bombeiros caso necessitem quebrá-los.

 Figura 63 - Prédio com fachada em vidro laminado - Centro de Convenções Ulisses Guimarães

• Os vidros temperados são confeccionados submetendo-os a altas temperaturas e resfriando-os abruptamente. São quebráveis, contudo apresentam alta resistência ao calor e a choques mecânicos, sendo muito utilizados em portas e acessos.

• Os vidros aramados possuem, em seu interior, uma malha de arame que não permite a passagem de objetos em caso de quebra do vidro. Por esse motivo são considerados vidros de segurança, sendo utilizados principalmente em rotas de fuga e locais protegidos.

Combater um incêndio em uma edificação em que existe o predomínio de estruturas com vidros irá requerer dos bombeiros a utilização de todos os sistemas de proteção contra incêndio e pânico existentes na própria edificação, assunto que será abordado no Módulo 5 do presente manual.

Quebrar os vidros para acessar o interior do prédio ou para fazer o combate é uma medida extrema, que deve ser evitada ao máximo.


Gesso acartonado
Hoje em dia está sendo muito utilizado na construção civil para substituir a alvenaria em paredes internas e divisórias.

Conhecido também como drywall, o gesso acartonado possui a característica de ser de montagem rápida e fácil.

No Brasil, até 2008, não existia legislação que obrigasse os usuários deste material a adotarem medidas que o tornasse resistente ao fogo e ao calor. Portanto, a presença deste material pode favorecer a propagação das chamas, tanto pela combustibilidade do material utilizado em sua confecção, quanto pela deformação com a ação do calor, acarretando a descompartimentação do ambiente (aumentando seu volume) e permitindo a propagação do incêndio pela movimentação da fumaça.

Quando montado, o gesso acartonado assemelha-se demasiadamente a uma parede comum, o que dificulta a identificação visual pelos bombeiros em caso de sinistro.


Dutos
Os dutos são aberturas verticais em uma edificação que atravessam os pavimentos, servindo para diferentes finalidades, desde a passagem de instalações elétricas e hidráulicas até uma escada ou fosso de elevador.

Estudos provenientes das análises de vários incêndios mostram que os dutos (escadas, fossos de elevadores, dutos de ventilação ou dutos técnicos - shafts) auxiliam na propagação do incêndio por convecção, semelhantemente ao que ocorre em chaminés.

 Figura 64 - Fosso de elevador e escada facilitam a  movimentação da fumaça na edificação

Dada a sua característica móvel, a fumaça tende a ocupar todos esses espaços, levando massa combustível gasosa aquecida a áreas ou ambientes ainda não afetados.

Em razão dessa característica, os bombeiros devem estar sempre atentos à presença de espaços como esses na edificação e monitorar se há início de outros focos,  inclusive em pavimentos não consecutivos.



Figura 65 – Exemplo de escada

Em uma edificação, as escadas de emergência, que normalmente são protegidas por paredes, são as melhores rotas de fuga para as vítimas, bem como de acesso para os bombeiros.

Um duto técnico, ou shaft, é uma abertura feita próxima à parede, semelhante a um armário, em todos os pavimentos, para a passagem de canalização hidráulica ou elétrica ou, ainda, servindo de  ventilação. Os bombeiros podem ter dificuldades em visualizar um duto técnico nas edificações. Contudo, costumam estar próximos a banheiros, cozinhas e áreas de serviço.


3 comentários:

  1. Boa noite...
    Esse é o intuito do Blogger...
    Abração e Feliz Ano Novo à Você e aos seus Familiares...

    ResponderExcluir
  2. Meus parabens,
    Foi um dos 2 melhores artigos sobre a dinâmica do incêndio que encontrei até hoje!

    Gostaria de conversar com você o mais breve, pois estou desenvolvendo uma solução com tecnologias muito atuais para tentar acelerar significativamente o processo de encontro de incendio ou até extinção antes de tornar-se um flashover.

    meu email rickstkb@gmail.com

    Poderia me chamar assim que visualizar ?

    Muito obrigado pelo trabalho, muito digno!

    ResponderExcluir