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02 agosto 2012

III - Araneísmo ( aranhas ) - Epidemiologia - Phoneuria - Loxosceles - Latrodectus - Lycosidae - Aranha Caranguejeira - Quadro Clínico - Acidentes - Exames - Tratamento - Prognóstico - Ação do Veneno -


III - Araneísmo

1. Introdução
No Brasil, existem três gêneros de aranhas de importância médica: Phoneutria, Loxosceles e Latrodectus. Os acidentes causados por Lycosa (aranha-de-grama), bastante freqüentes e pelas caranguejeiras, muito temidas, são destituídos de maior importância.

2. Epidemiologia
Desde a implantação do Sistema de Notificação dos acidentes araneídicos, vem-se observando um incremento da notificação de casos no país, notadamente nos estados do Sul.

Todos os atendimentos decorrentes de acidentes com aranhas, mesmo quando não haja utilização de soroterapia, deveriam ser notificados. Tal procedimento possibilitaria um melhor dimensionamento deste tipo de agravo, nas diversas regiões do país.

Segundo os dados do Ministério da Saúde, o coeficiente de incidência dos acidentes araneídicos situa-se em torno de 1,5 casos por 100.000 habitantes, com registro de 18 óbitos no período de 1990-1993. A maioria das notificações provem das regiões Sul e Sudeste (tabela 5).



3. As aranhas de importância médica
As aranhas são animais carnívoros, alimentando-se principalmente de insetos, como grilos e baratas. Muitas têm hábitos domiciliares e peridomiciliares. Apresentam o corpo dividido em cefalotórax e abdome. No cefalotórax articulam-se os quatro pares de pernas, um par de pedipalpos e um par de quelíceras. Nas quelíceras estão os ferrões utilizados para inoculação do veneno (fig. 37).



  
3.1. Phoneutria
São conhecidas popularmente como aranhas armadeiras, em razão do fato de, ao assumirem comportamento de defesa, apóiam-se nas pernas traseiras, erguem as dianteiras e os palpos, abrem as quelíceras, tomando bem visíveis os ferrões, e procuram picar (figs. 38 e 39). Podem atingir de 3 cm a 4 cm de corpo e até 15 cm de envergadura de pernas.

Não constroem teia geométrica, sendo animais errantes que caçam principalmente à noite. Os acidentes ocorrem freqüentemente dentro das residências e nas suas proximidades, ao se manusearem material de construção, entulhos, lenha ou calçando sapatos.

As espécies descritas para o Brasil são: P. fera, P. keyserfingi, P. nigriventer e P. reidyi.




3.1.1. Distribuição geográfica das espécies do gênero Phoneutria

a) P. fera e P. reidyi - região Amazônica;

b) P. nigriventer - Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina;

c) P. keyserfingi - Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa
Catarina.


3.2. Loxosceles
Conhecidas popularmente como aranhas-marrons, constroem teias irregulares em fendas de barrancos, sob cascas de árvores, telhas e tijolos empilhados, atrás de quadros e móveis, cantos de parede, sempre ao abrigo da luz direta. Podem atingir 1 cm de corpo e até 3 cm de envergadura de pernas (fig. 40).
Não são aranhas agressivas, picando apenas quando comprimidas contra o corpo. No interior de domicílios, ao se
refugiar em vestimentas, acabam provocando acidentes.
Várias são as espécies descritas para o Brasil. As principais causadoras de acidentes são: L. intermedia, L. laeta e L. gaucho.




3.2.1. Distribuição geográfica das espécies do gênero Loxosceles

a) L. intermedia - predomina nos estados do sul do país;

b) L. laeta - ocorre em focos isolados em várias regiões do país, principalmente no estado de Santa Catarina;

c) L. gaucho - predomina no estado de São Paulo.


3.3. Latrodectus
São conhecidas popularmente como viúvas-negras. As fêmeas são pequenas e de abdome globular, apresentando
no ventre um desenho característico em forma de ampulheta. Constroem teias irregulares entre vegetações arbustivas e gramíneas, podendo também apresentar hábitos domiciliares e peridomiciliares.
Os acidentes ocorrem normalmente quando são comprimidas contra o corpo. As fêmeas apresentam o corpo
com aproximadamente 1 cm, de comprimento e 3 cm de envergadura de pernas (fig. 41). Os machos são muito menores, em média 3 mm de comprimento, não sendo causadores de acidentes.
No Brasil, é registrada a ocorrência das espécies L. curacaviensis e L. gemetricus principalmente na região Nordeste.



3.3.1. Distribuição geográfica das espécies do gênero Latrodectus

a) L. curacaviensis - Ceará, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo;

b) L. geometricus - encontrada praticamente em todo o país.


3.4. Aranhas da família Lycosidae
São conhecidas como aranha-de-grama ou aranha-de-jardim. Os acidentes, apesar de freqüentes, não constituem problema de saúde pública. São aranhas errantes, não constroem teia e freqüentemente são encontradas em gramados e jardins. Podem variar de tamanho, sendo que as maiores atingem até 3 cm de corpo por 5 cm de envergadura de pernas. (fig. 42). Há um grande número de espécies descritas para todo o Brasil.





3.5. Aranhas caranguejeiras
Apresentam uma grande variedade de colorido e de tamanho, desde alguns milímetros até 20 cm de envergadura de pernas. Algumas são muito pilosas. Os acidentes são destituídos de importância médica, sendo conhecida a irritação ocasionada na pele e mucosas por causa dos pêlos urticantes que algumas espécies liberam como forma de defesa.



  
Acidentes por Phoneutria

1. Introdução
As aranhas do gênero Phoneutria são popularmente conhecidas como aranhas armadeiras. Embora provoquem acidentes com freqüência, estes raramente levam a um quadro grave.
O foneutrismo representa 42,2% dos casos de araneísmo notificados no Brasil, predominantemente nos estados do Sul e Sudeste. Os acidentes ocorrem em áreas urbanas, no intra e peridomicílio, atingindo principalmente os adultos de ambos os sexos. As picadas ocorrem preferencialmente em mãos e pés.


2. Ações do veneno
Estudos experimentais demonstram que o veneno bruto e a fração purificada PhTx2 da peçonha de P. nigriventer causam ativação e retardo da inativação dos canais neuronais de sódio. Este efeito pode provocar despolarização das fibras musculares e terminações nervosas sensitivas, motoras e do sistema nervoso autônomo, favorecendo a liberação de neurotransmissores, principalmente acetilcolina e catecolaminas. Recentemente, também foram isolados peptídeos do veneno de P. nigriventer que podem induzir tanto a contração da musculatura lisa vascular quanto o aumento da permeabilidade vascular, por ativação do sistema calicreína-cininas e de óxido nítrico, independentemente da ação dos canais de sódio.

O conhecimento destas ações pode auxiliar na compreensão da fisiopatologia do envenenamento, principalmente em relação à presença da dor local, priapismo, choque e edema pulmonar.


3. Quadro clínico
Predominam as manifestações locais. A dor imediata é o sintoma mais freqüente, em apenas 1% dos casos os pacientes se apresentam assintomáticos após a picada. Sua intensidade é variável, podendo se irradiar até a raiz do membro acometido. Outras manifestações são: edema, eritema, parestesia e sudorese no local da picada (fig. 44), onde podem ser visualizadas as marcas de dois pontos de inoculação.




Os acidentes são classificados em:

a) Leves: são os mais freqüentes, correspondendo a cerca de 91% dos casos. Os pacientes apresentam predominantemente sintomatologia local. A taquicardia e agitação, eventualmente presentes, podem ser secundárias à dor.

b) Moderados: ocorrem em aproximadamente 7,5% do total de acidentes por Phoneutria. Associadas às manifestações locais, aparecem alterações sistêmicas, como taquicardia, hipertensão arterial, sudorese discreta, agitação psicomotora, visão “turva” e vômitos ocasionais.

c) Graves: são raros, aparecendo em tomo de 0,5% do total, sendo praticamente restritos às crianças. Além das alterações citadas nas fornias leves e moderadas, há a presença de uma ou mais das seguintes manifestações clínicas: sudorese profusa, sialorréia, vômitos freqüentes, diarréia, priapismo, hipertonia muscular, hipotensão arterial, choque e edema pulmonar agudo.


4. Exames complementares
Em acidentes graves envolvendo crianças, verificaram-se leucocitose com neutrofilia, hiperglicemia, acidose metabólica e taquicardia sinusal. Todavia, não existem estudos clínicos controlados visando avaliar o tempo necessário para normalização desses exames. É aconselhável a monitorização das condições cardiorrespiratórias nos acidentes graves.


5. Tratamento

a) Sintomático: a dor local deve ser tratada com infiltração anestésica local ou troncular à base de lidocaína a 2% sem vasoconstritor (3 ml - 4 ml em adultos e de 1 ml - 2 ml em crianças). Havendo recorrência da dor, pode ser necessário aplicar nova infiltração, em geral em intervalos de 60 a 90 minutos. Caso sejam necessárias mais de duas infiltrações, e desde que não existam sintomas de depressão do sistema nervoso central, recomenda-se o uso cuidadoso da meperidina (Dolantina®), nas seguintes doses: crianças - 1,0 mg/kg via intramuscular e adultos 50 mg -100 mg via intramuscular. A dor local pode também ser tratada com um analgésico sistêmico, tipo dipirona. Outro procedimento auxiliar, útil no controle da dor, é a imersão do local em água morna ou o uso de compressas quentes.

b) Específico: a soroterapia tem sido formalmente indicada nos casos com manifestações sistêmicas em crianças e em todos os acidentes graves. Nestas situações, o paciente deve ser internado para melhor controle dos dados vitais, parâmetros hemodinâmicos e tratamento de suporte das complicações associadas.


No quadro VI estão resumidas as manifestações clínicas e as medidas terapêuticas recomendadas.

Observação: Deve ser evitado o uso de algumas drogas anti-histamínicas, principalmente a prometazina (Fenergan®), em crianças e idosos. Os efeitos tóxicos ou idiossinerásicos destes medicamentos podem determinar manifestações como sonolência, agitação psicomotora, alterações pupilares e taquicardia, que podem ser confundidas com as do envenenamento sistêmico.


6. Prognóstico
O prognóstico é bom. Lactentes e pré-escolares, bem como os idosos, devem sempre ser mantidos em observação pelo menos por seis horas. Os óbitos são muito raros, havendo relatos de 14 mortes na literatura nacional de 1926 a 1996.



Acidentes por Loxosceles

1. Introdução
O loxoscelismo tem sido descrito em vários continentes. Corresponde à forma mais grave de araneísmo no Brasil.
A maioria dos acidentes por Loxosceles notificados se concentra nos estados do Sul, particularmente no Paraná e
Santa Catarina. O acidente atinge mais comumente adultos, com discreto predomínio em mulheres, ocorrendo no intradomicílio. Observa-se uma distribuição centrípeta das picadas, acometendo coxa, tronco ou braço.


2. Ações do veneno
Há indicações de que o componente mais importante do veneno loxoscélico é a enzima esfingomielinase-D que, por ação direta ou indireta, atua sobre os constituintes das membranas das células, principalmente do endotélio vascular e hemácias. Em virtude desta ação, são ativadas as cascatas do sistema complemento, da coagulação e das plaquetas, desencadeando intenso processo inflamatório no local da picada, acompanhado de obstrução de pequenos vasos, edema, hemorragia e necrose focal. Admite-se, também, que a ativação desses sistemas participa da patogênese da hemólise intravascular observada nas formas mais graves de envenenamento.

Evidências experimentais indicam diferença de atividade dos venenos das várias espécies de Loxosceles de importância médica no Brasil. Assim, o veneno de L. laeta tem-se mostrado mais ativo no desencadeamento de hemólise experimental quando comparado aos venenos de L. gaucho ou L. intermedia.


3. Quadro clínico
A picada quase sempre é imperceptível e o quadro clínico decorrente do envenenamento se apresenta sob dois aspectos fundamentais:


3.1. Forma cutânea
Varia de 87% a 98% dos casos, conforme a região geográfica. De instalação lenta e progressiva, é caracterizada por dor, edema endurado e eritema no local da picada que são pouco valorizados pelo paciente.

Os sintomas locais se acentuam nas primeiras 24 a 72 horas após o acidente, podendo variar sua apresentação desde:

a) Lesão incaracterística: bolha de conteúdo seroso, edema, calor e rubor, com ou sem dor em queimação;

b) Lesão sugestiva: enduração, bolha, equimoses e dor em queimação até;

c) Lesão característica: dor em queimação, lesões hemorrágicas focais, mescladas com áreas pálidas de isquemia (placa marmórea) e necrose (fig. 45). Geralmente o diagnóstico é feito nesta oportunidade.

As picadas em tecido frouxo, como na face, podem apresentar edema e eritema exuberantes.


A lesão cutânea pode evoluir para necrose seca (escara), em cerca de 7 a 12 dias (fig. 46), que, ao se destacar em 3 a 4 semanas, deixa uma úlcera de difícil cicatrização.


 Acompanhando o quadro local, alterações do estado geral têm sido descritas, sendo as mais comumente referidas:
astenia, febre alta nas primeiras 24 horas, cefaléia, exantema morbiliforme, prurido generalizado, petéquias, mialgia, náusea, vômito, visão turva, diarréia, sonolência, obnubilação, irritabilidade, coma.


3.2. Forma cutâneo-visceral (hemolítica)
Além do comprometimento cutâneo, observam-se manifestações clínicas em virtude de hemólise intravascular
como anemia, icterícia e hemoglobinúria que se instalam geralmente nas primeiras 24 horas. Este quadro pode ser acompanhado de petéquias e equimoses, relacionadas à coagulação intravascular disseminada (CIVD). Esta forma é
descrita com freqüência variável de 1% a 13% dos casos, dependendo da região e da espécie da aranha envolvida, sendo mais comum nos acidentes por L. laeta.

Os casos graves podem evoluir para insuficiência renal aguda, de etiologia multifatorial (diminuição da perfusão renal, hemoglobinúria e CIVD), principal causa de óbito no loxoscelismo.
Com base nas alterações clínico-laboratorais e identificação do agente causal, o acidente loxoscélico pode ser classificado em:

a) Leve: observa-se lesão incaracterística sem alterações clínicas ou laboratoriais e com a identificação da aranha causadora do acidente. O paciente deve ser acompanhado durante pelo menos 72 horas, uma vez que mudanças nas características da lesão ou presença de manifestações sistêmicas exige reclassificação de gravidade;

b) Moderado: o critério fundamental baseia-se na presença de lesão sugestiva ou característica, mesmo sem a identificação do agente causal, podendo ou não haver alterações sistêmicas do tipo rash cutâneo, cefaléia e mal-estar;

c) Grave: caracteriza-se pela presença de lesão característica e alterações clínico-laboratoriais de hemólise
intravascular.


4. Complicações

4.1. Locais - infecção secundária, perda tecidual, cicatrizes desfigurantes.

4.2. Sistêmicas - a principal complicação é a insuficiência renal aguda.


5. Exames complementares
Não existe exame diagnóstico específico. Alterações laboratoriais dependem da forma clínica do envenenamento, podendo ser observados:

5.1. Na forma cutânea - hemograma com leucocitose e neutrofilia

5.2. Na forma cutâneo-visceral - anemia aguda, plaquetopenia, reticulocitose, hiperbilirrubinemia indireta, queda dos níveis séricos de haptoglobina, elevação dos séricos de potássio, creatinina e uréia e coagulograma alterado.

No exame anatomopatológico observa-se intensa vasculite no local da picada, seguida de obstrução de pequenos vasos, infiltração de polimorfonucleares e agregação plaquetária com o desencadeamento de edema, hemorragia e necrose focal. Nos casos de hemólise, há lesão de membranas eritrocitárias por ativação do sistema complemento e provavelmente por ação direta do veneno, não sendo afastada a interferência de fatores genéticos do paciente (déficit de G-6-P-D).


6. Tratamento
A indicação do antiveneno é controvertida na literatura. Dados experimentais revelaram que a eficácia da soroterapia é reduzida após 36 horas da inoculação do veneno. A freqüência de utilização do antiveneno tem variado conforme as experiências regionais, como se verifica, na tabela 6.



6.1. Específico
Soroterapia: as recomendações para utilização do antiveneno dependem da classificação de gravidade e estão
contidas no quadro VII.


6.1.1. Outros

a) Corticoterapia: embora não existam estudos controlados, tem sido utilizada a prednisona por via oral na
dose de 40 mg/dia para adultos e em crianças 1 mg/kg/dia durante, pelo menos, cinco dias.

b) Dapsone (DDS): tem sido testada, em associação com a soroterapia, como modulador da resposta inflamatória para redução do quadro local, na dose de 50 a 100 mg/dia via oral por duas semanas aproximadamente. Embora pouco freqüente, em face de risco potencial da Dapsone em desencadear surtos de metemoglobinemia, o paciente deve ser acompanhado do ponto de vista clínico-laboratorial durante o período de administração dessa droga.


6.1.2. Suporte

a) Para as manifestações locais:

- Analgésicos, como dipirona (7 a 10 mg/kg/dose);

- Aplicação de compressas frias auxiliam no alívio da dor local;

- Antisséptico local e limpeza periódica da ferida são fundamentais para que haja uma rápida cicatrização;

- A úlcera deverá ser lavada cinco a seis vezes por dia com sabão neutro, e compressas de KMn04 - 1:40.000 (um comprimido em quatro litros de água) ou água boricada 10% aplicados por cinco a dez minutos duas vezes ao dia;

- Antibiótico sistêmico (visando à cobertura para patógenos de pele), havendo infecção secundária;

- Remoção da escara deverá ser realizada após estar delimitada a área de necrose, que ocorre, em geral, após uma semana do acidente;

- Tratamento cirúrgico pode ser necessário no manejo das úlceras e correção de cicatrizes.


b) Para as manifestações sistêmicas:

- Transfusão de sangue ou concentrado de hemácias nos casos de anemia intensa;

- Manejo da insuficiência renal aguda, de acordo com as rotinas referidas no Capítulo X.


7. Prognóstico
Na maioria dos casos, é bom.
Nos casos de ulceração cutânea, de difícil cicatrização, podem ocorrer complicações no retorno do paciente às atividades rotineiras.
A hemólise intravascular, quando presente, pode levar a quadros graves e neste grupo estão incluídos os raros óbitos.



Acidentes por Latrodectus

1. Introdução
Os acidentes por Latrodectus têm sido relatados na região Nordeste (Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe), causados principalmente pela espécie L. curacaviensis. Ocorrem principalmente em pacientes do sexo masculino na faixa etária de 10 a 30 anos.

2. Ações do veneno
A alpha-latrotoxina é o principal componente tóxico da peçonha da Latrodectus. Atua sobre terminações nervosas
sensitivas provocando quadro doloroso no local da picada. Sua ação sobre o sistema nervoso autônomo, leva à liberação de neurotransmissores adrenérgicos e colinérgicos e, na junção neuromuscular pré-sináptica, altera a permeabilidade aos íons sódio e potássio.


3. Quadro clínico

3.1. Manifestações locais
Geralmente, o quadro se inicia com dor local em cerca de 60% dos casos, de pequena intensidade, evoluindo para sensação de queimadura 15 a 60 minutos após a picada. Pápula eritematosa e sudorese localizada são observadas em 20% dos pacientes. Podem ser visualizadas lesões puntiformes, distando de 1 mm a 2 mm entre si. Na área da picada há referência de hiperestesia e pode ser observada a presença de placa urticariforme acompanhada de infartamento ganglionar regional.


3.2. Manifestações sistêmicas

a) Gerais: aparecem nas primeiras horas após o acidente, sendo referidas: tremores (26%), ansiedade (12%), excitabilidade (11%), insônia, cefaléia, prurido, eritema de face e pescoço. Há relatos de distúrbios de comportamento e choque nos casos graves.

b) Motoras: dor irradiada para os membros inferiores aparecem em 32%, acompanhada de contraturas musculares periódicas (26%), movimentação incessante, atitude de flexão no leito; hiperreflexia ósteo-músculo-tendinosa constante. É freqüente o aparecimento de tremores e contrações espasmódicas dos membros (26%). Dor abdominal intensa (18%), acompanhada de rigidez e desaparecimento do reflexo cutâneo-abdominal, pode simular um quadro de abdome agudo.

Contratura facial, trismo dos masseteres caracteriza o fácies latrodectísmica observado em 5% dos casos.



c) Cardiovasculares: opressão precordial, com sensação de morte iminente, taquicardia inicial e hipertensão seguidas de bradicardia;

d) Digestivas: náuseas e vômitos, sialorréia, anorexia e obstipação;
e) Geniturinárias: retenção urinária, dor testicular, priapismo e ejaculação;
f) Oculares: ptose e edema bipalpebral, hiperemia conjuntival, midríase (fig. 47).


4. Complicações
As complicações graves como edema pulmonar agudo e choque relatadas na literatura internacional não têm sido observadas.

5. Exames complementares
As alterações laboratoriais são inespecíficas, sendo descritas alterações hematológicas (leucocitose, linfopenia, eosinopenia), bioquímicas (hiperglicemia, hiperfosfatemia), do sedimento urinário (albuminúria, hematúria, leucocitúria e cilindrúria) e eletrocardiográficas (arritmias cardíacas como fibrilação atrial e bloqueios, diminuição de amplitude do QRS e da onda T, inversão da onda T, alterações do segmento ST e prolongamento do intervalo QT).

Essas alterações podem persistir até por dez dias.


6. Tratamento

6.1. Específico
0 soro antilatrodectus (SALatr) é indicado nos casos graves, na dose de uma a duas ampolas por via intramuscular.
A melhora do paciente ocorre de 30 minutos a três horas após a soroterapia.


6.2. Sintomático
Além de analgésicos, têm sido utilizados:





Há relatos de utilização de Prostigmine, Fenitoína, Fenobarbital e Morfina.

Deve-se garantir suporte cardiorespiratório e os pacientes devem permanecer hospitalizados por, no mínimo, 24 horas.


7. Prognóstico
Não há registro de óbitos.




Fonte: FUNASA.


Bombeiroswaldo...


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